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OS DONS E A EDIFICAÇÃO DA IGREJA EM EFÉSIOS 4

Resumo: Esse breve artigo aborda as implicações de Efésio 4:11-13 para o funcionamento da igreja como um corpo enviado em missão com Deus. A análise do texto aponta para a compreensão do ministério quíntuplo de Cristo legado a igreja através do APEST. A consciência dos cinco dons de Efésios 4 recalibra a eclesiologia para uma abertura do sacerdócio de todos os crentes de uma forma mais criativa e contagiante, forma essa, que coloca a igreja em plena obediência ao seu mandato missionário e sua natureza ministerial. Palavras chave: Dons, Ministério, Mobilização. 1. INTRODUÇÃO Uma das doutrinas do Novo Testamento redescobertas pela Reforma Protestante – junto com sola escritura, sola gratia e sola fide – que se tornou de importância primordial para a vida da igreja foi ‘o sacerdócio universal de todos os crentes’ (ROLDAN, 2004, p. 151-177). Ela dá sentido à finalidade e papel da igreja no mundo. Guder (2000, p. 188) escreve, ‘ … não podemos esquecer de ler o Novo Testamento tal como foi concebido para ser lido, como equipando o povo de Deus para a missão’. Essa leitura aponta para um rompimento da divisão tradicional entre o sacerdote ou pastor e os leigos, que são o verdadeiro sacerdócio (1 Pd 2, 9), para que todos os que confessam a Cristo como Senhor sejam ‘sacerdotes’ e chamados à vocação missionária (Ef 4: 1-2). Efésios 4:1-13 fornece uma estrutura eclesial para a igreja resgatar sua vocação ministerial. Aqui é encontrado uma igreja que busca uma unidade radical (Ef 4:1-6), diversidade radical (Ef 4:7-11), para uma maturidade radical (Ef 4:12-13) Como prisioneiro no Senhor, rogo-lhes que vivam de maneira digna da vocação que receberam. Sejam completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns aos outros com amor. Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos (Ef 4:1-6 NVI). E a cada um de nós foi concedida a graça, conforme a medida repartida por Cristo. Por isso é que foi dito: “Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativo muitos prisioneiros, e deu dons aos homens”. ( Que significa “ele subiu”, senão que também descera às profundezas da terra? Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, a fim de encher todas as coisas. ) E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, (Ef 4:7-11 NVI) com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo (Ef 4:1-6 NVI). Essa unidade e diversidade tem o propósito de preparar o povo de Deus para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo possa ser edificado. O capítulo 4 de Efésios é um ataque devastador ao sequestro funcional no corpo de Cristo. Eugene Peterson (2006, p. 47) menciona uma explícita relação de dois sentidos entre o ministério de Cristo com o Corpo de Cristo: “Cada [APEST] dom é um convite e fornece os meios para participar na obra de Jesus Cristo.” APEST não é apenas o conjunto de dom que Jesus dá ao seu povo. É também a forma como o seu povo obtêm a participação naquilo que Ele próprio está fazendo… o que Ele quer fazer através de nós. Ministério é sempre uma via de dois sentidos. O que se vê é uma relação e interação de papéis e funções com orientação interna e externa para capacitar e equipar a igreja para que ela  chegue a plenitude de Cristo (Ef 4:12). 2. UM CORPO PERFEITAMENTE PROJETADO Efésio 4:12 afirma que os dons espirituais são dados “para preparar pessoas para obras de serviço, para que o corpo de Cristo seja edificado. ” Nos versos anteriores, Paulo descreve a encarnação e ascensão de Jesus como a garantia do dom divino aos humanos, a fim de dar-lhes a capacidade de realizar esta importante tarefa. Alguns dos dons são mencionados a fim de exemplificar como os santos podem ser “aperfeiçoados” para o serviço cristão. A palavra “preparar” (NIV) ou “aperfeiçoar” (KJV) é a tradução grega de katartismon. Também é traduzido como “preparar, capacitar, aperfeiçoar, perfeitamente ajustado ou adaptado, completamente qualificado para um propósito específico” (MOULTON, 1991, p. 220). Esta palavra foi usada por Paulo para descrever seu desejo de que o irmãos sejam “perfeitamente unidos na mesma mente e na mesmo discernimento” (1 Cor 1:10). Jesus usou esta palavra para significar o discípulo “o que é perfeito será como seu mestre ”(Lucas 6:40). O verbo katartizo aparece em Mateus 4:21 para descrever a atividade dos primeiros discípulos como pescadores, consertando as redes. Em Gálatas 6: 1 ele é usado para expressar a restauração daqueles atingidos em uma falha. Os dons foram dados com o propósito de ‘consertar’ os santos e uni-los (NICHOL, 1980, Vol. 6, p.  1023). Esta é a obra que Jesus quer fazer em nós: reparar, restaurar, e nos preparar para um propósito específico. Como Paulo afirmou em 2 Co 13: 9, sua oração foi “para a sua perfeição”, um ajuste completo, e completa qualidade de caráter. “A edificação dos crentes é outra missão ou função da igreja. Paulo explica que Deus deu os apóstolos, os profetas, evangelistas, pastores e mestres para a igreja (Ef 4:11) para o devido equipamento dos santos, para a obra do ministério (vv. 12, 13)” (DEDEREN, 2000, p. 549). Portanto, equipar crentes podem ser entendidos como o objetivo principal no ministério de fazer discípulos. O trabalho de equipar é uma cooperação íntima entre Deus e crentes no ministério. Para dar poder para a tarefa, o Espírito acrescentou dons especiais para crentes individuais (Rm 12: 6-8; 1 Cor 12: 4-11, 27-31; Ef 4:11). “Esses charismata, ou dons da graça, não devem ser confundidos com o Virtudes cristãs descritas como fruto do Espírito (Gl 5:22, 23). Eles são repartidos pelo Espírito a quem e como Ele quer (1 Cor 12:11)… Eles têm como objetivo fortalecer os crentes em sua fé e capacitá-los para realizar seu ministério na igreja ou entre os incrédulos ”(DEDEREN, 2000, p. 552). A igreja deve ser construída numericamente e em caráter. Os dons espirituais são dados para ajudar cada crente à encontrar seu lugar no corpo de Cristo. Deus dá ao seu povo dons do ministério espiritual a fim de equipá-los para testemunhar na comunidade e ministrando dentro da igreja. Os seguidores de Jesus hoje devem buscar esses dons tão sinceramente quanto os coríntios os procuraram por insistência de Paulo (1 Coríntios 14: 1). Esses dons, sob o ministério do Espírito Santo, irão (1) equipar a igreja membros para o trabalho do ministério, incluindo ganhar pessoas para Jesus, (2) construir o corpo de Cristo, (3) conduzir à unidade de fé conhecimento do Filho de Deus, (4) desenvolver maturidade espiritual em Jesus, e (5) sustentar o crescimento espiritual em direção à estatura da plenitude de Cristo (Efésios 4: 11-13). (RICE, 2000, p. 637) 3. AS CINCO BASES DO DNA MINISTERIAL DA IGREJA De acordo Cole (2014, p. 25), os cinco dons (APEST) foram dados a igreja para trazer a plena expressão da beleza de Cristo e glória no mundo. Para Hirsch e Catchim (2012, p. 73), podemos definir o APEST como a chave que conecta o povo de Deus com o seu propósito redentor no mundo:
    • Apóstolos: conecta à missão de Deus. São os enviados com uma mensagem ou missão especifica a cumprir. São encarregados a serem os criadores da extensão do Cristianismo como um todo, principalmente através de missões diretas e implantação de igrejas. Apóstolos são despertadores de sonhos, aquele que é enviado e expande.
    • Profetas: Conectado ao coração de Deus. São chamados a manter a fidelidade ao Senhor entre o povo de Deus. São guardiões da relação da aliança. Provocam reformas e desafiam o status quo. Profetas são sintonizadores da voz de Deus, aqueles que perguntam e buscam a  qualidade e fidelidade do ministério.
    • Evangelistas: Conectado à mensagem de Deus. São recrutadores para uma causa, através da transmissão do evangelho, naturalmente desenvolvem relacionamentos contagiantes capazes de alistar pessoas no movimento de Cristo. Evangelistas são “contadores de histórias”, aqueles que reúnem e recrutam.
    • Pastores: Conectado ao povo de Deus. São chamados para nutrir e desenvolver espiritualmente o corpo de Cristo. Sua função é manter a saúde comunitária e gerar um ambiente amoroso entre as pessoas. Pastores exercem o dom da unidade contagiosa, são curadores da alma na igreja, aqueles que protegem e fornece.
    • Mestres: Conectado à verdade de Deus. São mediadores da sabedoria e da compreensão dos mistérios de Deus. Eles trazem uma compreensão abrangente da revelação legada a igreja. Professores são “doadores de luz” para dentro do corpo de Cristo, aqueles que compreendem e explica.
Hirsch e Catchim (2014, p.18) nos ajuda a compreender melhor os cinco dons através da tabela abaixo: Os dons de Ef 4:11 demonstram diferentes facetas do Ministério de Cristo. De acordo Cole (2014, p. 44), somente Jesus cumpriu todos os papeis de Ef 4:11. Como cinco dons, quando todos funcionam juntos, isso nos dá uma imagem totalmente dimensional da plenitude de Cristo na igreja. Portanto, Jesus não nos dá apenas o melhor exemplo, mas Ele é mais bem visto no mundo quando o seu corpo manifesta todos os cinco dons trabalhando em harmonia. Quando uma igreja vivencia a operacionalização dos cinco dons de forma harmônica isso recalibra toda a eclesiologia. De forma geral, à atenção tem sido dirigida em grande parte para um modelo, mais pastor-mestre, dispensando os outros tipos de ministério missionário apóstolos-profetas-evangelistas. Na descrição dos dons, percebemos, que os três primeiros tem uma orientação para fora da igreja e os dois último para dentro do corpo. Esse balanceamento é responsável para que a igreja cumpra a sua vocação missional e encarnacional de forma completa. Enquanto a maior parte está com o foco para fora, criando conexões, testemunhando, trabalhando pela justiça social e expandindo o movimento, um grupo menor está assegurando um processo responsável de assimilação e capacitação. O que aconteceria se tivéssemos uma igreja disfuncional que não está vivendo os cinco dons em sua plenitude? Observe as figuras à seguir e tente identificar características latentes de acordo a descrição do APEST. Figura 1: Normalmente igrejas que são baixo em ensino, baixo em apostolado e baixo em evangelismo, mas, é alto em profeta e mediano em pastoreio, se parecem com segmentos pentecostais, neo-pentecostais onde a ênfase no trabalho do Espírito Santo é maior e um empenho com classes mais vulneráveis é prioridade. Figura 2: Igrejas que são forte em pastoreio e ensino, mas baixo em apostolado, profeta e média em evangelismo tendem a se parecer com as igrejas protestantes históricas. Elas super enfatizam o contexto interno. Figura 3: Igrejas que são super forte em ensino, médio evangelismo e pastoreio, mas baixo em apostolado e justiça social normalmente são segmentos de igrejas históricas como Batistas, e alguma medida algumas igrejas Adventistas do Sétimo Dia. Muitas igrejas estão sofrendo processos graves de manutenção e declínio por que suas estruturas ministeriais não correspondem a plano original de Cristo conforme Efésios 4. O verso 13 mostra as consequências da falta do APEST quando não são vistos de forma harmônica: A igreja perde a unidade da fé, se torna superficial no conhecimento de Deus, não cresce, e o resultado é imaturidade espiritual. Essa, infelizmente, poderia ser a descrição de muitas igrejas atualmente. Esse cenário nos chama à um equilíbrio na prática dos cinco dons. 4. O EQUILÍBRIO DOS CINCO DONS DE EF 4 NA IGREJA LOCAL Muitas igrejas padecem com a falta de equilíbrio  do APEST na prática dos seus ministérios. Isso tem incapacitado líderes de vivenciarem suas verdadeiras vocações no corpo de Cristo. Catchim e Hirsch (2014, p. 93) mencionam que a tendência natural do sistema da cristandade moderna é de focar nos ministérios internos do “pastor-mestre” em detrimento dos ministérios de foco externo “apóstolo-profeta-evangelista” e isso, tem subutilizado o papel da igreja na sociedade, tornando-a um gueto sectário completamente irrelevante no seu contexto. As consequências desse encolhimento podem ser notadas na concentração de atividades internas, foco no aprofundamento bíblico em detrimento do envolvimento missionário fora do prédio da igreja, foco na vida de koinonia como koinonite (doença da comunidade que não se mistura com o diferente). Além disso, é perceptível a consciência de um sentido restrito do remanescente (muito mais associado unicamente à salvação do que à missão), excesso de programas internos criando um calendário imobilizador. Todas essas questões conduzem para a produção da maior parte dos materiais apenas com foco interno, reuniões para discutir questões internas, investimento financeiro somente para atividades que acontecem dentro do prédio. Por fim, veremos uma hierarquia cada vez mais paralisante e uma cultura de manutenção instalada. Ao criar a consciência do equilíbrio dos cinco dons de Efésios 4 reorientamos o funcionamento da igreja em direção a vivencia da plenitude de Cristo: A sinergia provocada pelo APEST coloca a igreja em atividade consciente: O evangelista conecta, recruta e reúne; o profeta diz qual a vontade de Deus; o professor aprofunda e capacita; o apóstolo envia e o pastor conecta com todos os outros. Uma equipe de liderança que se expressa pelo APEST não está refém de cargos. Nossas igrejas são chamadas a esse recalibramento, de tornar os departamentos reféns da visão ministerial dos cinco dons. A maneira de adequar os departamentos de acordo as cinco áreas devem ser especificadas conforme o contexto. A seguir, está um esquema que pode ajudar nesse processo de  orientação de ênfase por cada área da igreja. 5. CONCLUSÃO O resultado da prática do APEST na igreja é o fortalecimento da doutrina do Sacerdócio de todos os crentes. O que se decorre desse fortalecimento é um forte senso comunitário, missional, bíblico e encarnacional. Isso significa uma igreja orientada mais para pessoas do que estruturas, mais para processos do que programas, não só para proclamação, mas também para presença. O APEST projeta o funcionamento de uma igreja onde os seus membros estão sendo preparados para a obra do ministério, para o desempenho do seu serviço, a edificação do corpo de Cristo, à unidade da fé, o pleno conhecimento do Filho de Deus, a perfeita vocação, a plenitude de Cristo. Ellen White (1986) menciona que “a maior causa de nossa fraqueza espiritual como um povo é a falta de fé real nos dons espirituais”. Se líderes de igrejas querem ver membros mobilizados, preparados para participarem da missão de Deus com os seus dons, Efésios 4 é uma chave importante para dar abertura esse movimento de discípulos que fazem discípulos. REFERÊNCIAS COLE, Neil. Primal Fire, Reigniting the church white the five gifts of Jesus. Bonita Springs, FL: Tyndale House Publishers, 2014. DEDEREN, Raoul. The Church. In Handbook of Seventh-day Adventist Theology. Hagerstown, MD: Review and Herald, 2000. GUDER, Darrel. Missional Church: A vision for the sending of the church in North America. Eerdmans, Grand Rapids, MI, 2000. HIRSCH, Alan e CATCHIM, Tim. The permanent revolution, apostolic Imagination and Practice for the 21st century church. São Francisco, CA: Jossey-Bass, 2012. MOULTON, Harold K. The Analytical Greek Lexicon. Grand Rapids, MI: Zondervan, 1991. NICHOL, F. “Every man”, Seventh-day Adventist Bible Commentary. Washington, DC: Review and Herald, 1980. PETERSON, Eugene H. Living the resurrection, the risen Christ in everyday life. Colorado Springs, CO: NavPress, 2006. RICE, George E. Spiritual Gifts. In Handbook of Seventh-day Adventist Theology. Hagerstown, MD: Review and Herald, 2000. ROLDÁN, A. F. ‘O sacerdócio de todos os crentes e a missão integral’, in T. Yamamori & CR Padilla (eds.), A igreja local, agente de transformação: Uma eclesiologia para missões integrais. Buenos Aires: Kairós, 2004. WHITE, Ellen G. Review and Herald, 14 de Agosto de 1868.

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